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Saturday, March 05, 2016

Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!



Li este belíssimo poema quando criança, num livro de  literatura para a quarta série. Deslumbrei porque ali senti a complexidade da vida e sua variância. Nunca esqueci e hoje releio vendo o quanto perdemos. Foi lido nos EUA, quando da inauguração do memorial para os passageiros e tripulantes do voo 93 que seria lançado sobre Washington  em 11 de setembro de 2001. Apreciem.






LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO



Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo em redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!



Carlos Drummond de Andrade