Monday, October 12, 2015

O cavalheiro da luz, Jorge Amado.



O primeiro passo
da obra de Jorge Amado
O País do Carnaval faz 80 anos. Romance escrito quando Jorge Amado tinha apenas 19 anos de idade, ele já traz os sinais e as inquietações da obra que, nas décadas seguintes, ajudaria a definir a identidade nacional.















Por José Carlos Ruy

O lançamento de “O País do Carnaval”, de Jorge Amado (Itabuna, BA, 1912-2001), em 1931, é um marco fundamental da literatura brasileira moderna. Começava ali, pela obra de um autor que tinha então apenas 19 anos de idade, uma carreira literária que iria marcar a maneira dos brasileiros fazerem seu próprio relato sobre as contradições da vida e que iria, nas décadas seguintes, ser incorporada à própria identidade nacional. Entre os brasileiros, só Paulo Coelho vendeu mais livros mundo afora. Mas, como sucesso literário mundial, é o brasileiro mais identificado com o Brasil e seu povo.

A ousadia de “O País do Carnaval”, que desconcertou a crítica do início da década de 1930, foi o fato de tematizar a vida literária alienada e elitista de então, submetendo-a a uma crítica severa. Foi um sucesso de público inesperado. Nos anos seguintes, vieram “Cacau”, “Suor”, “Jubiabá” e “Capitães da areia”, histórias de trabalhadores e da luta do povo que garantiram a Jorge Amado um lugar entre os autores mais avançados entre os escritores brasileiros.

Na década de 1930 ele se aproximou dos comunistas, levado por Rachel de Queiroz. Em 1935, foi preso por participar da Aliança Libertadora Nacional e alguns de seus livros (entre eles “Cacau” e “Suor”) foram traduzidos na União Soviética.

Jorge Amado era um escritor comunista, perseguido (e preso) pela ditadura do Estado Novo, que proibiu e queimou em praça pública, em Salvador, 1.694 exemplares de livros como "O país do carnaval", "Cacau", "Suor", "Jubiabá", "Mar morto" e "Capitães da areia".

Como comunista, Jorge Amado foi escritor de livros como “A vida de Luiz
Carlos Prestes” (depois publicado como “Cavaleiro da Esperança”, “Subterrâneos da liberdade” e “Homens e Coisas do Partido Comunista”. Foi também jornalista, tendo participado da direção de publicações comunistas como “Para-todos” ou o diário “Notícias de hoje”, em São Paulo. Foi também deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil em 1946.

Afastou-se do Partido em 1956, mas manteve-se ligado aos mesmos ideais libertários durante as décadas seguintes; somente nos anos finais de sua vida aproximou-se do conservadorismo que o levou, na eleição presidencial de 1989, a votar no candidato elitista Fernando Collor de Mello.

Mesmo assim, apesar desta inflexão politicamente conservadora na reta final de sua existência, sua obra e seus personagens sempre foram a expressão dos brasileiros, da forma de se viver e encarar a vida entre nós, das contradições que o povo enfrenta por aqui e das soluções criativas e humanas que encontra para elas.

Avançou, foi autor de um clássico como “Gabriela Cravo e Canela” mas continuou, ao longo de sua vida longa e produtiva, fiel aos compromissos que havia anunciado em 1931, nas páginas de “O País do Carnaval”.

Apresentação de O País do Carnaval

Seu alvo foi a alienação e o cinismo dos intelectuais de seu tempo, às vésperas da revolução de 30. Seu protagonista é Paulo Rigger, um escritor educado em Paris que chega à Bahia com uma amante francesa, Julie. Quando ela o trai com Honório, um trabalhador negro do campo, Rigger o demite Honório e a abandona em um hotel de Salvador. Ele volta para a Europa, afastando-se do País do Carnaval.

Com poucas descrições mas muito debate sobre a felicidade e o sentido da vida, o romance tematiza a inquietação da juventude em sua busca de rumos num mundo que parecia naufragar. Vida em que o protagonista Paulo Rigger identifica, em seus amigos jornalistas e intelectuais, a mesma inutilidade e vacuidade que vê em sua própria, alheio e alienado em relação a seu país, a seu povo e aos trabalhadores que aqui vivem. E que, significativamente, deixa o Brasil, de volta a Europa, lançando impropério contra sua terra natal.
 
Obras de Jorge Amado
O País do Carnaval, romance (1930)
Cacau, romance (1933)
Suor, romance (1934)
Jubiabá, romance (1935)
Mar morto, romance (1936)
Capitães da areia, romance (1937)
A estrada do mar, poesia (1938)
ABC de Castro Alves, biografia (1941)
O cavaleiro da esperança, biografia (1942)
Terras do Sem-Fim, romance (1943)
São Jorge dos Ilhéus, romance (1944)
Bahia de Todos os Santos, guia (1945)
Seara vermelha, romance (1946)
O amor do soldado, teatro (1947)
O mundo da paz, viagens (1951)
Os subterrâneos da liberdade, romance (1954)
Gabriela, cravo e canela, romance (1958)
A morte e a morte de Quincas Berro d'Água, romance (1961)
Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso, romance (1961)
Os pastores da noite, romance (1964)
O Compadre de Ogum,romance (1964)
Dona Flor e Seus Dois Maridos, romance (1966)
Tenda dos milagres, romance (1969)
Teresa Batista cansada de guerra, romance (1972)
O gato Malhado e a andorinha Sinhá, historieta infanto-juvenil (1976)
Tieta do Agreste, romance (1977)
Farda, fardão, camisola de dormir, romance (1979)
Do recente milagre dos pássaros, contos (1979)
O menino grapiúna, memórias (1982)
A bola e o goleiro, literatura infantil (1984)
Tocaia grande, romance (1984)
O sumiço da santa, romance (1988)
Navegação de cabotagem, memórias (1992)
A descoberta da América pelos turcos, romance (1994)
O milagre dos pássaros , fábula (1997)
Hora da Guerra, crônicas (2008)

Pelo Mundo

Há registros de traduções de obras de Jorge Amado para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e vietnamita (48 no total).

Elas foram publicadas no mínimo nos seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria, Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Venezuela e Vietnã. São mais de 50 nações.

retirado do portal www.vermelho.org.br