Wednesday, March 18, 2020

Bicicleta Automática, vodka!


Bicicleta dramática

Este belo e terrível texto, tive acesso no outono de 1969. Refleti muito sobre sua significância e trouxe-o para minha vida, repleta de despedidas, portos e estradas. Nunca vivi um amor na sua confiança plena ou na plenitude da confiança, da estabilidade cumplice. Sempre foram sustos, surtos, distancias. Neste momento, este belo texto é algo como um espelho na minha trajetória...








VEJO PELA JANELA Um homem numa bicicleta roxa, de camisa roxa. Cores tão roxas como meu coração e minha esperança neste momento. O mundo desmorona sobre mim e não sei o que fazer, simplesmente quedo-me pasmo e a beira da estrada. Mais uma vez largado a seu próprio destino e a beira da estrada.

Mas não quero lamentar. Só não sei o que fazer. Não quero chorar, virar mendigo, ficar bêbado, chorando e chorando, ouvindo minhas musicas e chorando. Amor nunca é demais, proximidade, evidencias de que não há amor. Simples porque há tantos  tipos de amor, tantos.

Sinto-o chegando com seu passos  pesados, sua bunda enorme e bonita, seu cheiro, cabelos de índio, passadas de negro.

Não quero chorar. Apenas a dor é tamanha que empasta tudo, vejo apenas o roxo e a dura semelhança entre a bicicleta e minha vida. Não adianta esforço, luta, resistência. Não adianta nada, porque vou perder mesmo, já perdi tudo, tenho apenas a vida...ainda.

Flagelos que busquei, não escutei alertas, acreditei. Apesar de ver sinais o tempo todo. Porque ele ficou enquanto todos foram? Mentiras, construção de outra vida, busca exclusiva por dinheiro. Mas tantos anos cativo? Amor com data e hora marcados, em dosagem mínima, viciante. Eu cego ou apaixonado ou agradecido pelo ultimo a ficar mesmo com tantas opções? Agora estou só e resistirei ? não vou destruir o que resta como nas outras vezes? Agora não tenho mais idade, é resistir ou a mendicância. É preciso estar alerta e construir outra vida, ainda há tempo, ainda há tempo.

Ah, o homem da bicicleta? Certamente nunca mais o verei, passou. Como tudo nesta vida passa.



A introdução é ficção. Escrevi esse texto num momento de extrema dor e decepção com uma certa pessoa em março 2016