Monday, October 29, 2018

Cinema brasileiro


Brasil registra recorde de lançamentos de filmes nacionais em 2017


Público porém, chega ao menor nível desde 2009
Publicado em 26/10/2018 - 16:15
Por Letycia Bond – Repórter da Agência Brasil Brasília












Em 2017, o Brasil atingiu novo recorde de lançamento de filmes nacionais em cinemas de todo o país. Segundo o Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro, divulgado esta semana pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), ao todo foram exibidos nas salas de cinema comerciais 160 longas-metragens brasileiros, 18 a mais que no ano anterior, quando foram exibidos 142 produções.

Do total de filmes lançados no ano passado, 56,8% (91) pertenciam ao gênero de ficção, 38,7% (62) eram documentários e sete, animações (4,37%).

Conforme mostra o relatório, a disparidade entre as bilheterias de obras nacionais e estrangeiras se repete todos os anos. No ano passado, o número de ingressos vendidos (17.358.513) para filmes nacionais correspondeu a 9,6% do total (181.226.407), o pior desempenho da série histórica da Ancine, iniciada em 2009. Os dados mostram que em 2010 os filmes assinados por cineastas brasileiros conquistaram seu maior público, com quase um quinto (19,1%) de todas as entradas comercializadas.

Democratização da cultura
Em nove anos, o número de salas de cinema no país passou de 2.110, para 3.223. De acordo com o relatório, houve consistência na ampliação de salas nos municípios com mais de 100 mil habitantes e, ainda, uma surpresa, que consistiu o aumento da quantidade de salas em cidades entre 20 mil e 100 mil habitantes, fato que não ocorria desde 2014.

Importante espaço de cultura e arte, o cinema, entretanto, ainda permanece como uma estrutura inacessível para grande parte da população. Somente 10,7% das salas de exibição mantêm seu funcionamento de forma independente de complexos comerciais, ou seja, são classificadas como cinemas de rua. O restante (89,3%) está localizado no interior de shopping centers.

O encarecimento do preço dos ingressos no país também pode ser um fator que explica a queda de público. Em 2013, o valor médio da entrada era R$ 11,73, subindo, nos anos subsequentes, para R$ 12,57, R$ 13,59, R$ 14,10 e R$ 15, no ano passado.

No relatório, as unidades federativas são avaliadas conforme a relação entre o número de habitantes por salas de cinema disponíveis. Distrito Federal (34.539), Roraima (34.842) e São Paulo (43.654) aparecem no topo da lista, enquanto os estados que apresentam as piores proporções são Bahia (144.759), Pará (126.767) e Piauí (123.818). A média no Brasil é de 64.431 habitantes por sala. Já nos Estados Unidos, para cada grupo de 8.056 pessoas, há uma sala de exibição.

Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro - Relatório Ancine/repródução

Perfil dos cineastas
Outra informação trazida pelo anuário diz respeito ao perfil dos cineastas no país. Durante os anos analisados, nota-se que, apesar de a participação de diretores de cinema não estreantes (que já lançaram ao menos um longa-metragem) e estreantes serem equitativas no contexto geral, as produções nacionais geralmente não dão chance aos realizadores novatos.

Os números mostram, porém, uma queda na bilheteria de filmes dirigidos por cienastas mais experientes. Em 2014, os diretores não estreantes cativaram 90,5% do público; em 2015, 91,9%; em 2016, 51,7%; e finalmente, no ano passado, 65,8%.

Em 2017, os estreantes conquistaram 53,1% das cadeiras de direção de longas do circuito comercial. De todos os filmes lançados, somente 36 (22,5%) tiveram diretoras mulheres, sendo que em 11 produções elas dividiram a função com um homem.

Além disso, 22 dos 160 títulos brasileiros lançados foram produzidos em regime de coprodução com outros países, entre os quais estão Argentina, Alemanha, Espanha e França.

Mais exibidos e mais vistos
Segundo a Ancine, o filme brasileiro mais visto no ano passado foi Minha Mãe é uma Peça 2, reproduzido em 1.043 salas. Colocá-lo em destaque na programação dos cinemas pode ter colaborado para ter a bilheteria de maior sucesso no ano. Ao todo, 5 milhões de ingressos foram vendidos para o filme .

"Em 39 das 52 semanas cinematográficas do ano de 2017, havia pelo menos um título estrangeiro ocupando simultaneamente mais de 30% das salas do parque exibidor. Desde 2014 essa quantidade de semanas vem aumentando. Apenas em uma semana um título brasileiro chegou a ocupar essa quantidade de salas", destacou a Ancine em seu anuário.

A agência destaca que, entre os títulos lançados no ano passado, 4,1% ocuparam mais de 30% das salas e que essa parcela de filmes absorve 57,4% do público. A maior parte dos lançamentos (55,5%) ocorreu em menos de 1% das salas de todo país.
Edição: Denise Griesinger


Friday, October 05, 2018

Machado de Assis, negro escritor brasileiro


Exposição traz primeiras edições de obras de Machado de Assis
Publicado em 30/09/2018 - 13:08
Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil São Paulo




As primeiras edições de livros de Machado de Assis, algumas com dedicatórias do próprio autor, estão na exposição Machado de Assis na BBM: Primeiras Edições e Raridades, que pode ser visitada até 22 de novembro, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), que fica na Universidade de São Paulo (USP). A mostra, que tem entrada gratuita, ocorre no ano em que se completam 110 anos da morte do autor.

Machado de Assis, em fotografia doada à ABL por herdeiros do crítico José Veríssimo - Arquivo/Agência Brasil

O curador Hélio de Seixas Guimarães, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo, destaca que “são exemplares únicos, é uma coleção absolutamente única, e que permite recompor muita coisa da história da produção, da publicação, da edição e da circulação dos textos de um dos grandes, senão do maior escritor que o Brasil já teve”.

A mostra reúne 108 itens, incluindo 17 periódicos com textos do autor e 40 obras coletadas postumamente por pesquisadores, tudo com acesso público atualmente na biblioteca. A ideia da exposição veio da pesquisa de Guimarães sobre a influência da obra de Machado de Assis na de escritores do século 20. “No meio desse trabalho, eu fui levantando também o que existia do Machado de Assis na biblioteca. Fui me dando conta da variedade do interesse desse conjunto porque eles têm todas as primeiras edições das obras.”

Além das primeiras edições, há obras publicadas durante o período de vida que trazem dedicatórias do próprio autor. “Esses exemplares têm autógrafos ou dedicatórias do Machado para figuras muito importantes da cultura brasileira, da literatura brasileira. Por exemplo, José Veríssimo, um dos grandes críticos literários do fim do século 19 e início do século 20, que foi amigo do Machado, que acompanhou a obra dele.”

Esses livros contam um pouco a história também das relações pessoais, intelectuais e das relações literárias do Machado de Assis, do início da carreira até o fim da vida, em 1908”, disse Guimarães. Por meio do material disponível na exposição, o público terá acesso ao modo como os textos e livros foram publicados no período em que o autor ainda supervisionava o processo, quando estava vivo e participando da produção e edição dos textos.

A seleção convida ainda o visitante a conhecer a carreira do autor com publicações em jornais e revistas. “O que conhecemos hoje como livro, esses textos, em grande parte, saíram antes em jornais e revistas. Tem um movimento na obra do Machado em que ele vai publicando contos, muitos de seus romances saem em capítulos, em formato de folhetim. E, posteriormente, ele recolhe para produzir a obra em livro, que é a obra que em geral chegou até a gente”, explicou o curador.

Além disso, a exposição mostra o movimento da obra do Machado, a composição da obra dele, a importância dos periódicos nisso. Segundo Guimarães, quase tudo passava pelos periódicos antes de chegar no formato de livro, recolhido pelo próprio Machado ou recolhido por pesquisadores e estudiosos de sua obra.

Outra curiosidade é o modo como os textos de Machado de Assis misturam-se às publicações cotidianas dos jornais e revistas da época, no meio de anúncios, desenhos, de gravuras, em alguns casos, em revistas sobre moda. “É interessante ver. Parece muito contrastante, quer dizer, o texto do Machado de Assis, desse grande escritor, saindo publicado ao lado de uma espécie de mosaico de informações que compõem o jornal e as revistas no século 19. É uma surpresa ver que o ambiente em que essa obra foi publicada originalmente.”
Edição: Nádia Franco