LOTERIA, LOTERIA DE AMORES
inda agora mesmo
fiz no papel um lotérica lista de
números
através deles e da noite pretendo sonhar
com eles
nas imorais noites que acordado fico
a construir de olhos abertos meus sonhos
embolei os pedaços de papel e apertei-os na
mão
como gostaria de sê-lo
levarei tudo pro lixo, tal lixo que
são as relações com eles, os números e
animais de minha lista
lista
de esperanças – desesperada
em miséria
rabisco este desgraçado papel
sentindo ânsia e inutilidade por
todo meu corpo
estou só e o físico em fogo
sendo consumido pelo álcool destilado
é preciso apagar esta ira de sexo
que faço na solitude da mão e
solidário pensar (que me trai, ao buscar
pessoa e fatos que quero repudiar)
procuro a cesta de lixo e bocejo
a guerra não terminara tão cedo
não há feliz natal nem feliz
ano novo
o mundo e cristo são os mesmos
ninguém muda
o egoísmo espera, logra e impera
porra
certamente agora sonharei ouvindo
baladas de outrora e negarei tu-
do aqui exposto.
Escrito na desiludida quase madrugada de 10 dezembro de 1981, EM Belo Horizonte,
sob torrentes de serotonina e vodka Smirnoff.