Thursday, February 25, 2016

Quem construiu Tebas das sete portas?



PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
  





Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída —
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

LEMBRO COM SAUDADE, do encantamento e maravilha quando li esse poema em HISTORIA DA SOCIEDADE BRASILEIRA. Já conhecia Bertold Brecht, fiz seu teatro de resistência numa outra vida. Neste período conheci José Mayer ainda franzino e de rabo de cavalo na cabeça, a mesma  voz maravilhosa. Foi meu professor de Português, me animava na literatura e teatro nos idos de 73. Mas só tempos depois tive acesso a tudo desse autor especial. Esse poema é inquietador porque busca personagens que os livros de historia desdenha. É lindo e preocupante. Cadê os outros?


Brecht em 1946
 
Bertolt Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 — Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi um influente dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX.
Nascido Eugen Berthold Friedrich Brecht, na Baviera, Brecht estudou Medicinae trabalhou como ordenança num hospital em Munique, durante a Primeira Guerra Mundial. Filho da burguesia sofreu, como todos no seu país, a sensação de encarar um país completamente destruído pela guerra.
Depois desta mudou-se para Berlim, onde o influente crítico Herbert Ihering lhe chamou a atenção para a apetência do público pelo teatro moderno.
Já em Munique, as suas primeiras peças (Baal e Trommeln in der Nacht) foram levadas ao palco e Brecht conheceu Erich Engel, com quem veio a trabalhar até ao fim da sua vida. Em Berlim, a peça Im Dickicht der Städte tornou-se no seu primeiro sucesso.
O totalitarismo afirmava-se como a força renovadora que não só iria reerguer o país, como se outorgava a missão de reviver o Sacro Império Romano-Germânico. Mas, ao mesmo tempo, chegavam à Alemanha influências da recém formada União Soviética, com sua bem-sucedida implantação de um regime socialista, o que significava esperança para um povo sofredor como o da Alemanha, naquele período.
É a este último grupo que Brecht se vai unir, na ânsia de debelar o seu desespero existencial. No entanto, depois de Hitler, eleito em 1933, Brecht não estava totalmente seguro na Alemanha Nazi, exilando-se na Áustria, Suíça, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Inglaterra, Rússia e, finalmente, nos Estados Unidos.
Recebeu o Prémio Lenin da Paz, em 1954.



Friday, February 19, 2016

A CASA









Encanto total e merecido premio. Uma solução com enorme significado social e moral, além de arte pura. Arquitetura onde o ser humano e sua historia prevalecem. Belíssimo trabalho, Terra e Tuma, parabéns!







Em 2011, um rapaz nos sondou sobre a possibilidade de projetar uma casa para sua mãe, pessoa de poucas posses, que morava em uma casa com sérios problemas de estrutura e salubridade.

Dona Dalva há décadas mora na Vila Matilde. Próximos vivem primos, tios, irmãos e amigos. A primeira opção era vender a casa, valor que somado a uma vida de economias daria para comprar um pequeno apartamento, mais afastado e, provavelmente, sem elevador, situação complicada para seus setenta e poucos anos.




Em pouco tempo aclarou-se o óbvio, resistir ao deslocamento, ao isolamento. Não mudar. Levantada a bandeira, cabia a nós e a uma rede de colaboradores mantê-la de pé. Sabíamos que uma vez iniciado o movimento, não haveria volta, tinha que dar certo até o fim. Tanto os projetos quanto a obra deveriam se adequar aos restritos recursos financeiros da família.

No início de 2014 a casa dava nítidos sinais de afecção e começou a ruir. Dona Dalva foi morar de aluguel na casa de um parente próximo.
A casa nova precisava ser construída o mais rápido possível, caso contrário o aluguel consumiria os seus recursos por completo.
Utilizamos nossas recentes experiências com estrutura e blocos aparentes, para viabilizar uma obra de baixo custo, com maior controle e agilidade.

O maior desafio foi a fase inicial da obra. Foram quatro meses demolindo cuidadosamente a casa antiga, ao mesmo tempo em que se executavam as fundações e arrimos que escoravam as casas vizinhas, apoiadas em seus muros de divisa. Seis meses depois de se iniciar a execução das alvenarias a casa pôde ser concluída.

A casa está implantada em um lote com 4,8 metros de largura por 25m de profundidade. O programa dispõe uma casa térrea, com sala, lavabo, cozinha, área de serviço e suíte no térreo a fim de atender a demanda da moradora.

Uma articulação entre lavabo, cozinha, área de serviço e um jardim interno conectam a sala, localizada na parte frontal, e os quartos localizados na parte posterior.
Na área central da casa, o pátio cumpre a função essencial de iluminar e a ventilar. Esta área, serve também como extensões da cozinha e da área de serviço.

No pavimento superior uma suíte foi projetada para receber visitas, totalizando uma área de 95m².
A área sobre a laje da sala foi apropriada como horta, e poderá ser coberta, ampliando o programa da casa a fim de atender a futuras demandas.

Uma solução simples, resultado de um processo longo, complexo e gratificante.