Thursday, December 31, 2015

Linda canção. Não ao ódio, independente de ser ateu, católico, muçulmano ou crente

Belíssimo hino,  esta canção fez sucesso. Lembro das madrugadas em BH quando eu ouvia atentamente as palavras na voz desse starmen magnifico, Lionel Richie. Ouçam e leiam.
Jesus Is Love






Father
Help Your children
And don't let them fall
By the side of the road, mmm...mmm...

And teach them
To love one another
That Heaven might find
A place in their hearts

'Cause Jesus is love
He won't let you down
And I know He's mine forever
Oh, in my heart

We've got to walk on
Walk on through temptation
'Cause His love and His wisdom
Will be our helpin' hand

And I know the Truth
And His words will be our salvation
Lift up our hearts
To be thankful and glad

That Jesus is love
He won't let you down
And I know He's mine
Deep down in my soul

Jesus is love
Oh, yes, He is
He won't let you down
And I know He's mine, He's mine, He's mine, He's mine, all mine
Forever, oh, in my heart
Help me, heart, heart
Ooh...ooh...

(Deep in my heart)
I know, I know, I know, I know
Ah, 'cause His love's the power (Power)
His love's the glory (Glory)
Forever (Ever and ever)

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Ooh, yeah, yeah (Yeah, yeah)

I wanna follow your star
Wherever it leads me
And I don't mind, Lord
I hope you don't mind

I wanna walk with you
And talk with you
And do all the things you want me to do
'Cause I know that Jesus

(Jesus is Love, I know) 'Cause I know, Lord
(And if you ask, I'll show)
(Love is the word forever) And ever and ever

Who can bring you love (Jesus)
Who can bring you joy (Jesus)
Who can turn your life around (Jesus), oh

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Hey

Who will pick you up (Jesus)
When you fall (Jesus)
Who'll stand beside you (Jesus)
Who will love us all

Hey, hey, Jesus (Yeah, yeah)
Jesus (Yeah, yeah)
Oh, yeah (Yeah, yeah)

One thing I wanna say
Who can heal your body (Jesus)
Who can make you strong (Jesus)
Who can help you to hold out (Jesus)
A little while longer

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Jesus loves you (Yeah, yeah), Jesus wants you
If you call Him, He will answer

(Jesus) Call him in the mornin'
(Jesus) Call him in the evenin'
(Jesus) Call him in the midnight hour

Hey, hey (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Yeah, yeah (Yeah, yeah)
Yeah, y'all say it for me

(Jesus is love)
Jesus É Amor

Pai
Ajude seus filhos
E não os deixe cair
ao longo da estrada

Ensine-os
A amar uns aos outros
Que o Paríso possa ser
Um lugar em seus corações

Jesus é amor
Ele não te deixará caido
E eu sei, Ele é amor
Oh, em meu coração

Nós temos que caminhar
Caminhar através das tentações
Pois Seu amor e Sua sabedoria
Será a mão a nos socorrer

Eu conheço a Verdade
E Suas palavras serão a nossa salvação
Eleva os nossos corações
Para que sejam gratos e alegres

Jesus é amor
Ele não te deixará caido
E eu sei, Ele é meu
Na profundeza de minh'alma

Jesus é amor
Oh, sim, Ele É
E não o deixará caido
E eu sei, Ele é meu, Ele é meu, Ele é meu, Ele é
meu, todo meu
Para Sempre, oh,no meu coração
Ooh...Ooh...

(no fundo do meu coração)
Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei
Ah, pois Seu amor é o Poder (Poder)
Seu amor é a Glória (Glória)
Para Sempre (Todo sempre)

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Ooh, yeah, yeah (Yeah, yeah)

Eu quero seguir a Sua estrela
Aonde ela me guiar
Eu não me importo Senhor
E espero que Você não se importe

Eu quero caminhar com Você
E conversar com Você
E fazer todas as coisas que Você quiser que eu faça
Por que eu sei que Jesus

(Jesus é amor, eu sei) Pois eu sei, Senhor
(E se voce perguntar, eu mostrarei)
(Amor pe a palavra para sempre) E sempre e sempre

Quem pode te trazer amor ? (Jesus)
Quem pode lhes trazer alegria ? (Jesus)
Quem pode mudar sua vida ?(Jesus) oh

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Hey

Quem pode te erguer ? (Jesus)
Quando você cair? (Jesus)
Quem ficará ao seu lado ? (Jesus)
Quem amará a todos nós ?

Hey, hey, Jesus (Yeah, yeah)
Jesus (Yeah, yeah)
Oh, yeah (Yeah, yeah)

Quero te dizer uma coisa
Quem pode curar seu corpo? (Jesus)
Quem pode te fazer forte? (Jesus)
Quem pode te ajudar a suportar (Jesus)
Um pouco mais ?

Ooh, yeah (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Jesus te ama (Yeah, yeah) Jesus te quer
E se voce chama-Lo, Ele responderá

(Jesus) Chame-o pela manhã
(Jesus) Chame-o à noite
(Jesus) Chame-o à meia noite

Hey, hey (Yeah, yeah)
Yeah (Yeah, yeah)
Yeah, yeah (Yeah, yeah)
Yeah, Digam isso para mim


(Jesus is Love)

Monday, December 21, 2015

Lágrima do Sul, dor pura e resistência enfrentam o preconceito

LAGRIMA DO SUL, Milton Nascimento
Encontros e Despedidas, 1985

Ouçam que maravilha, o comprometimento e a raça.





Reviver tudo o que sofreu
Porto de desesperança e lágrima
Dor de solidão
Reza pra teus orixás
Guarda o toque do tambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas pra voar
Que haverão de vir um dia
E que chegue já, não demore, não
Hora de humanidade, de acordar
Continente e mais
A canção segue a pedir por ti

África, berço de meus pais
Ouço a voz de seu lamento
De multidão
Grade e escravidão
A vergonha dia a dia
E o vento do teu sul
É semente de outra história
Que já se repetiu
A aurora que esperamos
E o homem não sentiu
Que o fim dessa maldade
É o gás que gera o caos
É a marca da loucura
África, em nome de deus
Cala a boca desse mundo
E caminha, até nunca mais
A canção segue a torcer por nós

África tudo o que sofreu
Porto de desesperança e lágrima
Dor de solidão
Reza pra teus orixás
Guarda o toque do tambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas pra voar
Que haverão de vir um dia
E África, em nome de deus
Cala a boca desse mundo
E caminha, até nunca mais

A canção segue a torcer por nós

Wednesday, December 09, 2015

A excepcional vibração da certeza do amor!

Fanatismo
 
Para aquele a quem amo e que é a razão da minha vida!
Porque tu és como um deus, principio e fim. Já te falei de tudo, mas tudo isto é pouco... Diante do  que sinto!





Fagner



Minh' alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina, fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,(x2)
Que tu és como um deus: princípio e fim!...(x2)

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,

diante do que sinto.


Saturday, November 07, 2015

Nao se tem razão o amor



Os amantes
Rubem Braga

Céus, isto é lindo demais. Vivi duas vezes apenas e apenas um e depois três dias. Minha vida mudou, sonho com este largor, este abandono e entrega. Fiquei por 23 anos atrás desse conto, li-o ainda adolescente. É lindo!













Os Amantes por Rubem Braga

Nos dois primeiros dias, sempre que o telefone tocava, um de nós esboçava um movimento, um gesto de quem vai atender. Mas o movimento era cortado no ar. Ficávamos imóveis, ouvindo a campainha bater, silenciar, bater outra vez. Havia um certo susto, como se aquele trinado repetido fosse uma acusação, um gesto agudo nos apontando. Era preciso que ficássemos imóveis, talvez respirando com mais cuidado, até que o aparelho silenciasse.

Então tínhamos um suspiro de alívio. Havíamos vencido mais uma vez os nossos inimigos. Nossos inimigos eram toda a população da cidade imensa, que transitava lá fora nos veículos dos quais nos chegava apenas um ruído distante de motores, a sinfonia abafada das buzinas, às vezes o ruído do elevador. Sabíamos quando alguém parava o elevador em nosso andar; tínhamos o ouvido apurado, pressentíamos os passos na escada antes que eles se aproximassem. A sala da frente estava sempre de luz apagada. Sentíamos, lá fora, o emissário do inimigo. Esperávamos quietos. Um segundo, dois – e a campainha da porta batia, alto, rascante. Ali, a dois metros, atrás da porta escura, estava respirando e esperando um inimigo. Se abríssemos, ele – fosse quem fosse – nos lançaria um olhar, diria alguma coisa – e então o nosso mundo seria invadido.

No segundo dia ainda hesitamos; mas resolvemos deixar que o pão e o leite ficassem lá fora; o jornal era remetido por baixo da porta, mas nenhum de nós o recolhia. Nossas provisões eram pequenas; no terceiro dia já tomávamos café sem açúcar, no quarto a despensa estava praticamente vazia. No apartamento mal iluminado íamos emagrecendo de felicidade. Devíamos estar ficando pálidos, e às vezes, unidos, olhos nos olhos, nos perguntávamos se tudo não era um sonho. O relógio parara, havia apenas aquela tênue claridade que vinha das janelas sempre fechadas. Mais tarde essa luz do dia distante, do dia dos outros, ia se perdendo, e então era apenas uma pequena lâmpada no chão que projetava nossas sombras nas paredes do quarto e vagamente escoava pelo corredor, lançava ainda uma penumbra confusa na sala, onde não íamos mais.

Pouco falávamos: se o inimigo estivesse escutando às nossas portas, mal ouviria vagos murmúrios; e a nossa felicidade imensa era ponteada de alegrias menores e inocentes, a água forte e grossa do chuveiro, a fartura festiva de toalhas limpas, de lençóis de linho.

O mundo ia pouco a pouco desistindo de nós; o telefone batia menos e a campainha da porta quase nunca. Ah, nós tínhamos vindo de muito e muito amargor, muita hesitação, longa tortura e remorso; agora a vida era nós dois apenas.

Sabíamos estar condenados; os inimigos, os outros, o resto da população do mundo nos esperava para lançar olhares, dizer coisas, ferir com maldade ou tristeza o nosso mundo, nosso pequeno mundo que ainda podíamos defender um dia ou dois, nosso mundo trêmulo de felicidade, sonâmbulo, irreal, fechado, e tão louco e tão bobo e tão bom como nunca mais haverá.

No sexto dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares edifícios – que importa que lá dentro não haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?

Entretanto, a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a chamar: e assim três, quatro vezes sucessivas.

Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta da porta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.

Eu sentia dentro de mim, doce, essa espécie de saturação boa, como um veneno que tonteia, como se os meus cabelos já tivesse o cheiro de seus cabelos, como se o cheiro de sua pele tivesse entrado na minha. Nosso corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor, eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido, e uma vez que, sentado de frente para a janela, por onde filtrava um eco pálido de luz, eu a contemlava tão pura e nua, ela disse: “Meu Deus, seus olhos estão esverdeando”.

Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz, nossos gestos eram parecidos e integrados, como se o amor fosse um longo ensaio para que um movimento chamsse outro; inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível como um lento bailado.

Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza; resolvi sair, era preciso dar uma escapada para obter víveres; vesti-me, lentamente, calcei os sapatos como quem faz algo de estranho; que horas seriam?

Quando cheguei à rua e olhei, com um vago temor, um sol extraordinariamente claro me bateu nos olhos, na cara, desceu pela minha roupa, senti vagamente que aquecia meus sapatos. Fiquei um instante parado, encostado à parede, olhando aquele movimento sem sentido, aquelas pessoas e veículos irreais que se cruzavam; tive uma tonteira, e uma sensação dolorosa no estômago.

Havia um grande caminhão vendendo uvas, pequenas uvas escuras; comprei cinco quilos, o homem fez um grande embrulho; voltei, carregando aquele embrulho de encontro ao peito, como se fosse a minha salvação.

E levei dois, três minutos, na sala de janelas absurdamente abertas, diante de um desconhecido, para compreender que o milagre se acabara; alguém viera e batera à porta e ela abrira pensando que fosse eu, e então já havia também o carteiro querendo recibo de uma carta registrada e, quando o telefone bateu, foi preciso atender, e nosso mundo foi invadido, atravessado, desfeito, perdido para sempre – senti que ela me disse isto num instante, num olhar entretanto lento (achei seus olhos muito claros, há muito tempo que não os via assim, em plena luz) um olhar de apelo e de tristeza, onde, entretanto, ainda havia uma inútil, resignada esperança.

Monday, October 12, 2015

O cavalheiro da luz, Jorge Amado.



O primeiro passo
da obra de Jorge Amado
O País do Carnaval faz 80 anos. Romance escrito quando Jorge Amado tinha apenas 19 anos de idade, ele já traz os sinais e as inquietações da obra que, nas décadas seguintes, ajudaria a definir a identidade nacional.















Por José Carlos Ruy

O lançamento de “O País do Carnaval”, de Jorge Amado (Itabuna, BA, 1912-2001), em 1931, é um marco fundamental da literatura brasileira moderna. Começava ali, pela obra de um autor que tinha então apenas 19 anos de idade, uma carreira literária que iria marcar a maneira dos brasileiros fazerem seu próprio relato sobre as contradições da vida e que iria, nas décadas seguintes, ser incorporada à própria identidade nacional. Entre os brasileiros, só Paulo Coelho vendeu mais livros mundo afora. Mas, como sucesso literário mundial, é o brasileiro mais identificado com o Brasil e seu povo.

A ousadia de “O País do Carnaval”, que desconcertou a crítica do início da década de 1930, foi o fato de tematizar a vida literária alienada e elitista de então, submetendo-a a uma crítica severa. Foi um sucesso de público inesperado. Nos anos seguintes, vieram “Cacau”, “Suor”, “Jubiabá” e “Capitães da areia”, histórias de trabalhadores e da luta do povo que garantiram a Jorge Amado um lugar entre os autores mais avançados entre os escritores brasileiros.

Na década de 1930 ele se aproximou dos comunistas, levado por Rachel de Queiroz. Em 1935, foi preso por participar da Aliança Libertadora Nacional e alguns de seus livros (entre eles “Cacau” e “Suor”) foram traduzidos na União Soviética.

Jorge Amado era um escritor comunista, perseguido (e preso) pela ditadura do Estado Novo, que proibiu e queimou em praça pública, em Salvador, 1.694 exemplares de livros como "O país do carnaval", "Cacau", "Suor", "Jubiabá", "Mar morto" e "Capitães da areia".

Como comunista, Jorge Amado foi escritor de livros como “A vida de Luiz
Carlos Prestes” (depois publicado como “Cavaleiro da Esperança”, “Subterrâneos da liberdade” e “Homens e Coisas do Partido Comunista”. Foi também jornalista, tendo participado da direção de publicações comunistas como “Para-todos” ou o diário “Notícias de hoje”, em São Paulo. Foi também deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil em 1946.

Afastou-se do Partido em 1956, mas manteve-se ligado aos mesmos ideais libertários durante as décadas seguintes; somente nos anos finais de sua vida aproximou-se do conservadorismo que o levou, na eleição presidencial de 1989, a votar no candidato elitista Fernando Collor de Mello.

Mesmo assim, apesar desta inflexão politicamente conservadora na reta final de sua existência, sua obra e seus personagens sempre foram a expressão dos brasileiros, da forma de se viver e encarar a vida entre nós, das contradições que o povo enfrenta por aqui e das soluções criativas e humanas que encontra para elas.

Avançou, foi autor de um clássico como “Gabriela Cravo e Canela” mas continuou, ao longo de sua vida longa e produtiva, fiel aos compromissos que havia anunciado em 1931, nas páginas de “O País do Carnaval”.

Apresentação de O País do Carnaval

Seu alvo foi a alienação e o cinismo dos intelectuais de seu tempo, às vésperas da revolução de 30. Seu protagonista é Paulo Rigger, um escritor educado em Paris que chega à Bahia com uma amante francesa, Julie. Quando ela o trai com Honório, um trabalhador negro do campo, Rigger o demite Honório e a abandona em um hotel de Salvador. Ele volta para a Europa, afastando-se do País do Carnaval.

Com poucas descrições mas muito debate sobre a felicidade e o sentido da vida, o romance tematiza a inquietação da juventude em sua busca de rumos num mundo que parecia naufragar. Vida em que o protagonista Paulo Rigger identifica, em seus amigos jornalistas e intelectuais, a mesma inutilidade e vacuidade que vê em sua própria, alheio e alienado em relação a seu país, a seu povo e aos trabalhadores que aqui vivem. E que, significativamente, deixa o Brasil, de volta a Europa, lançando impropério contra sua terra natal.
 
Obras de Jorge Amado
O País do Carnaval, romance (1930)
Cacau, romance (1933)
Suor, romance (1934)
Jubiabá, romance (1935)
Mar morto, romance (1936)
Capitães da areia, romance (1937)
A estrada do mar, poesia (1938)
ABC de Castro Alves, biografia (1941)
O cavaleiro da esperança, biografia (1942)
Terras do Sem-Fim, romance (1943)
São Jorge dos Ilhéus, romance (1944)
Bahia de Todos os Santos, guia (1945)
Seara vermelha, romance (1946)
O amor do soldado, teatro (1947)
O mundo da paz, viagens (1951)
Os subterrâneos da liberdade, romance (1954)
Gabriela, cravo e canela, romance (1958)
A morte e a morte de Quincas Berro d'Água, romance (1961)
Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso, romance (1961)
Os pastores da noite, romance (1964)
O Compadre de Ogum,romance (1964)
Dona Flor e Seus Dois Maridos, romance (1966)
Tenda dos milagres, romance (1969)
Teresa Batista cansada de guerra, romance (1972)
O gato Malhado e a andorinha Sinhá, historieta infanto-juvenil (1976)
Tieta do Agreste, romance (1977)
Farda, fardão, camisola de dormir, romance (1979)
Do recente milagre dos pássaros, contos (1979)
O menino grapiúna, memórias (1982)
A bola e o goleiro, literatura infantil (1984)
Tocaia grande, romance (1984)
O sumiço da santa, romance (1988)
Navegação de cabotagem, memórias (1992)
A descoberta da América pelos turcos, romance (1994)
O milagre dos pássaros , fábula (1997)
Hora da Guerra, crônicas (2008)

Pelo Mundo

Há registros de traduções de obras de Jorge Amado para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e vietnamita (48 no total).

Elas foram publicadas no mínimo nos seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria, Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Venezuela e Vietnã. São mais de 50 nações.

retirado do portal www.vermelho.org.br

Thursday, September 24, 2015

Transgeneros, conhecimento da diversidade sexual.



Sem medo de fazer gênero:
entrevista com a filósofa americana Judith Butler



ÚRSULA PASSOS
ilustração avaf - 20/09/2015 02h01
RESUMO Importante nome dos estudos de gênero e da teoria queer, a filósofa americana Judith Butler esteve pela primeira vez no Brasil no começo deste mês. Ela, que desenvolveu a ideia de gênero como uma performance que repete normas dominantes, fala em entrevista sobre direitos e nossa responsabilidade com o outro. 











No último dia 9, em São Paulo, um grupo de cerca de dez pessoas protestava, em frente do Sesc Vila Mariana, contra a presença ali de uma filósofa americana, com cartazes que diziam frases como "Fora aberração de gênero" e "Cuidado! Querem impor a ideologia homossexual nas escolas". 

Em 1990, Judith Butler lançou o livro que seria um dos marcos do feminismo recente e que influenciou os estudos de gênero e a teoria queer –nome dado ao amplo campo para o qual o gênero, sexo e orientação sexual são construções sociais, e não determinações biológicas–, que ganhavam espaço nas universidades e centros de pesquisa desde os anos 1970 e que se fortaleceram na década de 90. 

"Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade" [trad. Renato Aguiar, Civilização Brasileira, R$ 39, 238 págs.], que acaba de ser relançado no Brasil, se insere nos estudos pós-estruturalistas e questiona a busca de uma identidade para o sujeito do feminismo. 

A partir da conhecida frase de Simone de Beauvoir em "O Segundo Sexo" –"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher"–, dos estudos de linguagem e da psicanálise, a hoje professora da Universidade da Califórnia em Berkeley questiona o aspecto binário –masculino ou feminino– do gênero e a ideia de que ele seja natural e biológico. 

Visitando escritos como os de Michel Foucault –e sua reflexão sobre a hermafrodita Herculine Barbin–, Luce Irigaray, Monique Wittig, Lacan e Julia Kristeva, ela desenvolve o conceito de gênero como "performativo" –fabricado culturalmente, uma performance repetida e reencenada de normas e significados estabelecidos socialmente que se legitimam pela imitação de convenções dominantes. 

Para subverter e evidenciar o caráter construído de noções como feminilidade e masculinidade, propõe práticas paródicas que rompam com categorias como sexo, gênero e sexualidade, mostrando que se referem a um original também artificial. 

Desde então, Butler se dedica ao campo da ética no mundo contemporâneo, desenvolvendo reflexão sobre a precariedade do ser humano e sua necessidade do suporte do meio e do entorno social. 

Até este ano, além de "Problemas de Gênero", estava disponível no Brasil apenas "O Clamor de Antígona: Parentesco entre a Vida e a Morte" [trad. André Cechinel, editora UFSC, R$ 20, 128 págs.]. Nesse livro de 2000, ela imagina, a partir da peça de Sófocles, que, se o mito fundador da psicanálise fosse o de Antígona, e não o de Édipo, seria possível separar família e parentesco. 

Talvez graças à sua primeira vinda ao Brasil, onde falou em Salvador, São José do Rio Preto e São Paulo, teve outros dois livros traduzidos. Em "Relatar a Si Mesmo: Crítica da Violência Ética" [trad. Rogério Bettoni, Autêntica, R$ 39,90, 200 págs.], de 2005, defende que somos constituídos pelos outros e evidencia a impossibilidade de um sujeito ético totalmente racional e transparente. 

Já "Quadros de Guerra: Quando a Vida é Passível de Luto?" [trad. Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha, Civilização Brasileira, R$ 39, 288 págs.], publicado nos EUA em 2009, reúne ensaios da filósofa que, a partir da guerra do Iraque, reflete sobre a existência de vidas que, por não serem consideradas vividas, não são lamentadas quando perdidas; vidas cuja violação não é problematizada. 

Ao falar na capital paulista, no 1º Seminário Queer, promovido pela revista "Cult", sobre vulnerabilidade, precariedade dos corpos, resistência para além do campo legal e mobilização, Butler disse que, caso os manifestantes tivessem entrado, talvez aprendessem alguma coisa. Na ocasião, ela também comentou a exclusão do Plano Municipal de Educação de menções a gênero e diversidade sexual, que qualificou como censura que "busca calar a discussão sobre o quão variado o gênero pode ser". 

Nesta entrevista, Butler comenta a abordagem de questões de gênero com jovens e crianças nas escolas, fala de movimentos sociais, entre eles a luta LGBTQI –sigla que inclui transgêneros, queer (ou pessoas de gênero fluído, que não se reconhecem nem no feminino nem no masculino) e intersexuais (pessoas que nascem sem características fisiológicas e físicas claras que determinem seu gênero, chamadas, no campo médico, de hermafroditas)–, e também da crise dos refugiados na Europa.


Folha - Como seu pensamento e seus escritos mudaram desde "Problemas de Gênero"?
Judith Butler - Eu mudo minhas visões e aprendo muito com meus críticos mais generosos. Eu acreditei numa coisa em certo momento e agora acredito em outras e de novo mudo minhas opiniões. Crio minhas teorias de forma nova a cada vez e, mesmo que determinados textos ressoem em outros, eles não seguem em linha reta. 

"Problemas de Gênero" foi escrito em meio à epidemia de aids nos EUA, mas também estava relacionado a um atuante movimento político nas ruas, como o Act Up, Queer Nation, e a uma vibrante cena de bares gays e lésbicos na qual havia experimentação tanto quanto ao gênero como à sexualidade. 

O movimento LGBT ainda não era "mainstream", e os direitos ao casamento não eram o mais importante. Vivemos em outra época, eu mesma estou mais alerta a formas globais que a luta por direitos sexuais e de gênero tomou. 


O movimento trans é forte e segue se fortalecendo. Os direitos ao casamento geraram uma comunidade marginalizada, que está experimentando outras formas de relacionamento e de práticas sexuais. 

O trabalho sobre performatividade se desenvolveu em vários campos, e minha visão é uma em meio a tantas. Acho que estava preocupada, mesmo em "Problemas de Gênero", com uma questão: que vidas merecem o luto? 

Eu vi muitas vidas perdidas pela aids e muito frequentemente elas não eram devidamente reconhecidas e lamentadas. Mas agora estou ciente de [que essa questão atinge] outros grupos, o que inclui pessoas LGBTQ [lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e queer], pessoas alvejadas em guerra ou abandonadas pelas políticas de austeridade. 

Como frisar o modo desigual com que se valorizam e choram diferentes vidas? Sinto que o valor de uma vida se deve em parte ao seu potencial de condição de luto. Continuo afirmando a política performativa, especialmente quando empreendida por grupos que buscam estabelecer e redefinir um sentido democrático de povo. 

Em "Quadros de Guerra" você trata de como algumas vidas não têm esse direito ao luto. Mais do que a foto do menino sírio na praia turca recentemente, vemos todos os dias imagens das consequências da crise migratória na Europa. Que direitos negamos a essas pessoas?
Eu acho que aquela foto inquire sobre que relação temos com a criança morta. Somos responsáveis? Ou essa criança é problema dos outros? Alguns países estão muito felizes em aumentar sua riqueza e mandar que as dívidas sejam pagas, fechar suas fronteiras e insistir em sua "europeidade". Mas qual é sua responsabilidade para com tantas pessoas que lutam para deixar zonas de guerra e a miséria econômica para entrar na riqueza da Europa? Em dado momento, todos teremos de saber que pertencemos uns aos outros e que há formas de pertencimento com claras implicações éticas e políticas que transcendem o Estado-nação. Então talvez se torne obrigatório abrir mão dos lucros do Primeiro Mundo a fim de produzir infraestrutura social para os que vivem em condições precárias. 

Que obrigações temos para com outros humanos aos quais não nos ligamos formal ou legalmente?
Antes de responder, lembremos que leis internacionais estipulam obrigações para com a humanidade. Mas, mesmo havendo tribunais internacionais, seus julgamentos não têm o efeito compulsório das cortes nacionais. Uma decisão legal sem força policial não é a mesma que uma com força policial. Ainda que indivíduos possam ser julgados e presos como criminosos de guerra e por cometer crimes internacionais contra a humanidade, há limitações para o que cortes internacionais podem fazer. 

A questão que me interessa é se obrigações legais têm de se fundamentar em obrigações pré-legais ou extralegais. Se perguntarmos por que devemos nos importar com refugiados em busca de abrigo e segurança em outro canto do mundo, talvez sejamos obrigados a questionar o que nos une a outras pessoas, inclusive as que não conhecemos e não conheceremos. 

Se essa população em sofrimento não compartilha comigo uma língua, um território, um sistema legal, ainda assim tenho de reagir de modo a diminuir seu sofrimento? Acredito que estejamos unidos aos que não conhecemos e não conheceremos, e eles a nós, sem saber nossos nomes. Essa ligação anônima é crucial para a ideia de responsabilidade global. 

Como remodelar nossa noção do que é o humano?
Acho que o humano está sendo remodelado o tempo todo pelas tecnologias, pelas guerras, pela mudança climática. Nossa capacidade de remodelar o humano emerge em meio a um processo histórico ao qual nós não demos origem. Acredito que agora se ache que a distinção humano/animal não é mais útil. E nossa dependência da tecnologia também está sendo amplamente compreendida como parte da condição humana. 

O humano não pode ser humano sem o mundo objetivo e sem os suportes que tornam possível sua continuidade. Em minha opinião, a implicação do humano nos mundos objetivo e animal oferece uma maneira de pensar políticas do meio ambiente para além da presunção do antropocentrismo. 

Como as novas lutas e conquistas de transgêneros e intersexuais têm influenciado seu trabalho?
Tenho tido discussões interessantes com ambos os grupos. Ativistas intersexuais têm visões variadas, e alguns estão furiosos com uma versão da teoria queer que questiona o binarismo homem-mulher. Acham importante ter uma designação clara de gênero, especialmente para crianças intersexuais que querem poder se identificar e serem reconhecidas entre seus pares. Da mesma forma, algumas pessoas transexuais argumentam que a teoria queer faz do gênero algo volitivo, e ao menos alguns dizem que seu sentimento de gênero pode ser tão profundamente consolidado a ponto de merecer ser chamado "inato". 

Para aqueles que argumentam nesse sentido, a teoria queer é orientada demais para uma escolha livre e uma construção social. Essas visões são importantes. Claro que há pessoas trans que contestam o binarismo homem-mulher. E existem intersexuais que pedem um terceiro gênero ou uma maneira de marcar seu status intersticial. Então não há visões únicas em nenhuma das comunidades. 

Um ponto para o qual venho chamando atenção é que designação de gênero é algo que nos acontece. É uma interpelação a contragosto. E, nesse sentido, a construção social do gênero sempre começa de modo radicalmente involuntário. Pode-se debater quais aspectos do gênero são inatos ou adquiridos, mas é mais importante reconhecer o efeito involuntário da designação de gênero e a resistência profundamente consolidada [de alguns] a tal designação. Essa resistência pode ser crucial para a sobrevivência e conformar um preceito básico da identidade de alguém. 

Eu aceito que algumas pessoas tenham um sentimento profundo de seu gênero e que isso deva ser respeitado. Eu não sei explicar esse sentimento profundo, mas ele existe para muitos. Pode ser uma limitação para minha análise eu pessoalmente não ter esse sentimento profundo de gênero. Pode ser que essa ausência seja o que motivou minha teoria. 

Que fronteiras há entre feminismo, estudos de gênero e estudos queer?
Às vezes há tensões claras entre esses campos, mas em outras há formas tocantes de solidariedade. Sou a favor de produzir formas de solidariedade que prescindam de acordo. Não podemos ter um feminismo dedicado à justiça social sem comprometimento com a justiça social para pessoas trans. E não podemos ter estudos de gênero que não sejam baseados em feminismo e em perspectivas emergidas de estudos gays, lésbicos, intersex, bissexuais e trans. Essas pontes têm de ser construídas. 

Como entender a construção de identidades trans e queer dentro da ideia de performatividade?
Às vezes ela funciona como teoria, às vezes não. Ela nunca quis explicar tudo. Acho, porém, que toda vez que colocamos reivindicações por direitos, ou insistimos em estar em público sem sermos molestados, feridos ou presos, usamos da performatividade. Não só dizemos quem somos mas "fazemos" quem somos e pedimos ao mundo que aceite. Eu diria que isso é performatividade. 

Em sua conferência em São Paulo, você disse saber da exclusão do termo "gênero" e das discussões em torno dele no Plano Municipal de Educação. Também viu alguns manifestantes com cartazes contra a chamada "ideologia de gênero". Por que temer gênero?
Meu entendimento é de que algumas pessoas temam que "gênero" signifique que não haja leis naturais que regulem a divisão entre sexos. Elas querem leis naturais para estabelecer a questão de gênero para elas. Se você nasce com um conjunto de características, você é uma garota, e você vai se tornar heterossexual e vai casar e não vai ter empregos que adequadamente pertencem aos homens. 

Se essa sequência é culturalmente variável, então você pode nascer com um conjunto de características e vir a adquirir outros conjuntos. Ou pode ter seu gênero redesignado e se tornar homem, e pode ser hétero, gay, bi ou assexuado. Pode casar ou não, com alguém do mesmo gênero ou não. Você pode se divorciar, até diversas vezes. Você pode ser poliamoroso e ter vários parceiros. 

Enquanto alguns entendem que vidas podem ter várias trajetórias de gênero e sexuais, os que temem gênero querem que haja só uma vida. E querem que ela seja fixada por Deus ou por lei natural. Todo o resto é caos amedrontador, e com frequência escolhem o ódio como forma de lidar com seus medos. 

Como professores de crianças e adolescentes podem tratar a teoria e os estudos queer nas escolas?
A teoria queer sugere uma série de reflexões importantes aos jovens. Eis algumas: Como você sabe de que gênero você é? E como você se imagina no futuro? O gênero está ali desde o começo ou se estabelece com o tempo? Existem mais que dois gêneros? O que é gênero e como funciona? Pode deixar de funcionar? Por que algumas pessoas se inquietam tanto sobre gênero, sobretudo quando outra pessoa não tem a aparência que se esperaria? Por que crianças às vezes são intimidadas por causa de seu gênero? E se seu corpo não aparenta o gênero que você sente ter? Como é olhar-se no espelho e não ver seu eu do jeito que o sente? Qual a diferença entre sexo e gênero? Por que existem tantas ideias diferentes de gênero de acordo com o lugar de onde se vem? 

E há algumas questões relacionadas à sexualidade: Como sei se sou hétero ou gay? São as únicas duas opções? Como aprendo o que quero? Como testo o que eu quero? Se eu me sinto atraído por alguém do mesmo sexo, sou gay? Por que às vezes ficamos nervosos com pessoas pelas quais somos atraídos? Por que às vezes é mais fácil ficar sozinho lendo ficção científica? Como lésbicas fazem sexo? O que é coito anal? Os bissexuais são só "indecisos"? Por que às vezes temos vergonha do que desejamos, de nossas fantasias? Por que às vezes temos vergonha ou ficamos inquietos quanto a desenvolver novas características sexuais ao crescermos? Por que algumas pessoas odeiam gays e lésbicas? Por que às vezes é tão assustador não se encaixar? O que as crianças podem fazer por um mundo em que ninguém sofra por causa de seu gênero ou sexualidade? 

Você escreveu em "Problemas de Gênero" que "rir de categorias sérias é indispensável para o feminismo". Quais são essas categorias e por que ser feminista hoje?
Talvez gênero seja uma dessas categorias. Quando não fico irritada, eu rio ao ter de preencher a opção "masculino" ou "feminino". Se você pensar bem, é um jeito esquisito de dividir o mundo. Por que essa é a primeira questão que é feita e respondida quando uma criança nasce? Talvez nos transformemos em nosso gênero, ou nos livramos dele? Não dizemos quando uma criança nasce: "É um heterossexual!". 

Pode-se escapar do gênero?
Na verdade, não. Mesmo que às vezes possamos e que por vezes nos vejamos fora de suas normas, sempre nos relacionamos com aquilo pelo qual somos chamados, interpelados. Podemos recusar e mudar gêneros, tentar viver fora das normas, mas lidamos com um mundo social que vai desafiar isso. Mesmo a quebra mais radical de gênero tem de lidar com instituições, discursos e autoridades que buscarão designações pelo gênero. É uma luta.
ÚRSULA PASSOS, 28, é redatora da "Ilustríssima".  avaf (assume vivid astro focus) é o nome da dupla de artistas formada pelo carioca Eli Sudbrack e pelo parisiense Christophe Hamaide-Pierson.