Thursday, May 31, 2018

Um país dificil...


Andifes: 2,5 mil estudantes índios e quilombolas não receberam bolsas
Publicado em 30/05/2018 - 15:19
Por Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil Brasília




Estudantes indígenas e quilombolas de universidades federais estão sem bolsa-permanência desde o início do ano, afirmou hoje (30) o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Emmanuel Tourinho. A bolsa é de R$ 900.

Tourinho disse que 2,5 mil estudantes que entraram nas instituições federais este ano estão sem receber os recursos. A bolsa é paga diretamente pelo Ministério da Educação (MEC), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). por meio de um cartão de benefício.

Para quem já era estudante até o ano passado, os pagamentos estão mantidos. O MEC confirmou a situação e disse que a situação deverá ser regularizada no segundo semestre.

“Os nossos alunos, sem suporte, não conseguem permanecer na universidade, não conseguem acompanhar as atividades acadêmicas”, afirmou o presidente da Andifes, que participou, nesta quarta-feira de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para tratar da crise financeira nas universidades federais. A audiência foi solicitada pelo senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PPS-DF).

Tourinho falou também sobre as dificuldades das universidades para manter a assistência estudantil que, segundo ele, teve os recursos de investimento zerados e os de custeio, congelados. Segundo o MEC, o valor para assistência estudantil para 2018 previsto no orçamento é a mesmo do ano passado.

A assistência estudantil engloba tanto moradia e alimentação quanto bolsa-permanência para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ou seja, com renda familiar per capita inferior a um salário mínimo e meio, ou seja R$ 1.431. O valor pago em bolsa para os estudantes varia de acordo com a instituição, ficando em média em R$ 450. “Sem os recursos, não temos condições de manter o mesmo patamar de assistência”, disse Emmanuel Tourinho.  

A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão Moura, que participou do debate, disse que a instituição tem usado recursos da arrecadação própria para pagar a esses estudantes. “Hoje está se tornando gravíssima a assistência estudantil. Estamos conseguindo atender apenas àqueles que têm menos de R$ 250 de renda per capita. Os que ganham mais não conseguimos atender. O que vai acontecer com esse estudante? Ele vai evadir-se da universidade”, afirmou.

A expansão das universidades, principalmente desde 2007, com o Programa do Governo Federal de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e a Lei de Cotas (Lei 12.711/12), ampliou o ingresso nas instituições públicas e diversificou o perfil dos estudantes. A Lei de cotas estabelece que 50% das vagas das universidades federais e das instituições federais de ensino técnico de nível médio sejam reservadas a estudantes de escolas públicas. Dentro da lei, há reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas, de acordo com a porcentagem dessas populações nas unidades federativas.

“Estamos em situação de aumento da situação de vulnerabilidade socioeconômica dos nossos estudantes”, ressaltou Márcia Abrahão. A reitora enfatizou que eles precisam cada vez mais de assitência para continuar estudando. Segundo a reitora, no ano passado, após quatro anos sem abrir edital, a UnB fez vestibular para estudantes indígenas. Eles ingressam na instituição a partir deste ano.

Crise nas instituições  
As universidades reclamam de dificuldades financeiras que vão além do pagamento da assistência estudantil e da bolsa-permanência e afirmam que houve também aumento significativo de campi e de professores e de alunos e que faltam recursos para manter e aprimorar essa estrutura.

A Andifes mostra que, embora a dotação orçamentária tenha aumentado de R$ 47,3 bilhões, em 2017, para R$ 47,8 bilhões, em 2018, os gastos, principalmente com pessoal ativo e inativo, aumentaram em maior proporção, passando de R$ 38,2 bilhões para R$ 39,4 bilhões no mesmo período.

A dotação usada pels instituições para aquisição de livros, computadores, equipamentos para laboratórios, entre outros, caiu de R$ 3,7 bilhões, em 2012, para R$ 813 milhões neste ano.

Ajuste fiscal
Na audiência, o MEC ressaltou que o Brasil passa por um momento de ajuste fiscal e que tem resultados primários – balanço das receitas e despesas – negativos desde 2014. Para este ano, a meta é que as contas públicas fechem em R$ 159 bilhões negativos. Segundo a pasta, é preciso cumprir essa meta, além do teto dos gastos públicos - que limita o aumento dessas despesas em 20 anos.

No MEC, os recursos para despesas discricionárias, aqueles para os quais a pasta pode escolher o destino, passaram de R$ 26 bilhões, em 2014, para R$ 22,6 bilhões em 2018. Desse montante, em 2014, R$ 7,2 bilhões foram destinados às instituições federais, valor que caiu para R$ 6,4 bilhões este ano. O MEC destaca que a queda geral foi maior que a queda nas universidades.

“O orçamento das universidades federais, na medida das possibilidades do ministério, tem sido preservado e tratado como prioridade. Hoje a rede federal concentra 60% do orçamento do ministério”, informou o coordenador-geral de Planejamento e Orçamento das Instituições Federais de Ensino do MEC, Weber Gomes de Souza. Ele disse que é preciso melhorar a gestão dos gastos e a organização interna das instituições.

Weber acrescentou que também é necessário discutir uma maior participação de recursos privados no financiamento das instituições federais, o que daria mais independência em cenários de dificuldade fiscal do governo.
Saiba mais
Edição: Nádia Franco

Monday, May 14, 2018

Belíssimas historias brasileiras


Uma história brasileira
por Moacyr Scliar — publicado 28/02/2011 16h16, última modificação 28/02/2011 17h28
Para o escritor Moacyr Scliar, falecido no último domingo 27, o best seller Cazuza, de Viriato Corrêa, é um livro de histórias comoventes que mostram personagens típicos do Brasil 

PAULO: concordo com tudo, um dos mais belos livros que li, ainda criança.




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O escritor gaúcho Moacyr Scliar, falecido na madrugada do último domingo 27, colaborou por diversas vezes nas revistas Carta na Escola e Carta Fundamental, ambas editadas por CartaCapital. Abaixo, "Uma história brasileira", em que Scliar fala de sua admiração pela obra Cazuza, de Viriato Corrêa, que marcou sua juventude.




Uma história brasileira


Cazuza, o best seller do maranhense Viriato Corrêa, é um livro de histórias comoventes, e reais, que mostram personagens típicos do Brasil 

Entre os livros juvenis que os meninos de minha geração liam está um verdadeiro clássico da ficção brasileira: Cazuza, do maranhense Viriato Corrêa. É um livro que teve incontáveis edições. Já não tenho o exemplar original, mas a cópia que comprei em 1982, da Companhia Editora Nacional, é da trigésima edição. Um best seller, portanto. O que é explicável, em primeiro lugar pelo perfil do autor. Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho (Pirapemas, Maranhão, 1884 – Rio de Janeiro, 1967) foi jornalista, contista, romancista, dramaturgo, autor de crônicas históricas e de livros infanto-juvenis e político. Sabia, portanto, como atingir o público. E tinha um profundo conhecimento da realidade brasileira. Fez seus primeiros estudos em São Luís do Maranhão, começou o curso de Direito no Recife, mas, como era habitual então, acabou por se radicar no Rio de Janeiro, para onde foi a pretexto de se formar advogado. O que não aconteceu. Logo aderiu à intelectualidade boêmia da época e começou a trabalhar em jornalismo, no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, em O Malho e também na famosa O Tico-Tico, publicação infantil. 

Antes de Cazuza, Viriato publicou Minaretes (1903), um livro de contos, História do Brasil para Crianças e As Belas Histórias da História do Brasil. Mas sucesso mesmo ele obteve com Cazuza, lançado em 1938, ano em que entrou na Academia Brasileira de Letras, e inspirado em cenas de sua infância em São Luís do Maranhão. Cazuza refletia a clara influência de um livro que Viriato Corrêa tinha lido com entusiasmo e que foi sucesso na Itália (onde até hoje é leitura recomendada nas escolas) e no mundo inteiro: Coração (Cuore), de Edmondo De Amicis, cujo centenário de falecimento, como o de Machado de Assis, ocorre neste ano. Nascido em 1846, De Amicis cursou a Academia Militar de Modena, tornou-se oficial do Exército italiano e participou em algumas batalhas. A Unificação da Itália estava em curso, então, e o espírito patriótico encontrava-se no auge, o que aparece no romance, redigido sob a forma de diário do garoto (10 anos) Enrico Bottini e refletindo seu relacionamento com os pais, com os colegas de escola, com os professores. Cuore obteve uma repercussão comparável à de Pinóquio, ou às obras de Dickens e de Mark Twain. 

Cazuza também consta de uma série de narrativas, que nos vão apresentando vários personagens típicos do interior do Brasil: o próprio Cazuza, o Pata-Choca, Dona Janoca, a diretora da escola, o velho Mirigido, Jorge Carreiro. E aí se sucedem as lições de moral. Estimulado pelo amigo Ninico da Totonha, Cazuza resolve caçar passarinhos. Perseguido por estes, tropeça num cipó, cai sobre uma casa de marimbondos, é picado e fica cheio de calombos. Resultado: passa duas semanas de cama, gemendo. E o que diz a mãe, a quem ele desobedecera? “Foste castigado por duas faltas. Uma a maldade de querer tolher a liberdade alheia; outra a desobediência aos meus conselhos. Deus não gosta dos meninos maus e desobedientes.” 

Ranço moralista à parte, o livro é encantador. Há histórias comoventes, e reais, como a do líder abolicionista Luís Gama, mulato, filho de uma negra quitandeira e de um fidalgo português, jogador contumaz. Na ânsia de obter dinheiro para o jogo, o pai acaba vendendo o próprio filho como escravo. Mas Luís Gama, menino corajoso, inteligente, foge da casa onde é escravo, entra no Exército, educa-se, pratica advocacia e torna-se um grande abolicionista. É este o exemplo que o professor de Cazuza cita para o relapso aluno Veloso (leia abaixo). 


Veloso e a história de Luís Gama


“O professor calou-se por um instante. Voltou-se depois para o Veloso e disse: 

– Sua pobreza e suas dificuldades, ao lado da pobreza e das dificuldades de Luís Gama, são gotas d’água comparadas com o mar. A sorte algemou Luís Gama de todas as maneiras. Deu-lhe aquele pai infame. Deu-lhe a extrema pobreza. Deu-lhe até a desgraça da escravidão. E no entanto Luís Gama quebrou essas algemas, estudou, e instruiu-se. Por quê? Porque teve força de vontade. 

E, de dedo apontado para o Veloso: 

– Você não estuda porque não quer!”
Cazuza, Cia. Editora Nacional, pág. 195 






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